segunda-feira, 2 de junho de 2008

Sofro


Perfeito no eterno retorno
Nada faltou e aconteceu tudo
Erro trágico e entusiasmo
Pormenores biográficos irrepetíveis
repetidos ao milímetro
escondidos à espera de acontecer
Fiz algazarra e agora?
Não consigo dormir com o barulho
lúdico e menos sofrido
nada a ver com palavras
suas regras e passos de dança
Pedir licença
Daquilo de que escapamos
nos deparamos mais à frente
O sofrimento tem graça
e a história acontece
como tragédia
redunda-se como comédia,
que se repete tragicamente
Retalhando o passado
Em pedaços para não o viver de novo
e ele volta, mais nítido, incisivo
Achei que era capa e espada
Me tornei um palhaço
Achei que era um arqueiro
e sou o bobo da corte
Tem alguma graça
A graça que isto tem não se pode ficar pela graça
não há saída para fora do círculo
a volta ele está em chamas
nada ficou como antes
depois da farsa não se volta
não se refaz o percurso
não se sai do círculo
Deixei tudo a perder
e de nada serve o teatro
subtilmente encenado dos últimos anos
Se Deus está nos pormenores
Diabo está nos parêntesis
Há um momento a partir de qual o sofrimento visto de dentro
é uma tragédia insuportável
e visto de fora uma farsa abominável
Tenho que seguir quem me chama
A representação terminou
no sítio onde estou já nem há palco
estou fora do espaço do teatro
Acabou a corrida em que fugia de mim e do Diabo
Agora, tenho que tirar conclusões
agora chegou o tempo
agora já não tenho desculpa
agora continuo

Davi "El Brujo™"

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